segunda-feira, 15 de junho de 2009

Sem maledicências outras

Sem maledicências outras, quando baixou o enfado ouvindo Chet Baker, ironizou Glauber Rocha e mudou o filme, pensou pedante o texto de Paul Valéry, riu da mesmice de Sean Connery, usufruiu Franz Kafka como alguém que não passava uma barata, achou Jorge Luís Borges um cego, Fernanda Montenegro deslumbrada com a moral de ser séria, Chico Buarque um egocêntrico, Dostoiévisk um cristão problemático, Bertrand Russell um laranja inteligente, Marcel Proust uma bicha mimada que escrevia bem, Manoel de Barros um artesão publicitário de slogans, Portinari um figurativo marqueteiro, Auguste Rodin um oportunista do óbvio, Antunes Filho um pernóstico espevitado, Elis Regina uma afetada da emoção, resolveu dar uma pausa. No fundo, se achou genial por contradizer o óbvio coletivo dos descolados. Os amigos, porém, nunca mais o chamaram para tomar uma.

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