quarta-feira, 24 de junho de 2009

Banalizar o despertador

Banalizar o despertador não bastaria, era a hora! Com neblina nos olhos, chuvas de suor e nebulosas no cérebro, inclinou o corpo e se levantou, lento. A patroa sonhava com coisas caras, claro, ouviu um enrolado balbuciar dorminhoco: “trufas negras”. Metida, pensou.
Já no ponto de ônibus sentia doer as vistas, sempre que um farol apontava no rumo de suas retinas. Àquela hora havia quase ninguém aflita como ele. Outras três, e estaria no trabalho, martelando o ponto, rodeado de falas e histórias. “Peãozada alegre, não sei o por quê?”.
Passava um pouco das oito quando perdeu um, dos muitos dez dedos que ainda tinha. A serra ligada, nem ligou para a sua dor. Teria direitos trabalhistas, licença de uns dias. Voltaria depois, aleijado. Nesses dias, ouviria a mulher, maldizendo-o, descuidado. As trufas negras permaneceriam lá, nalguma raiz velha ou mato mofado, que ele nem imaginava onde era. Nunca soube de um ônibus para lá.

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