terça-feira, 23 de junho de 2009

Nosso pai

Nosso pai era homem ralhador. Repreendeu a deus e ao diabo quando os moços da cidade, desses, que vêm pescar só nas férias, o apelidaram de Terceira Margem. Era a sério. Depois se conformou, quando explicaram que era nome da história de um mineirinho, por nome de Rosa. Sossegou, e até meio se orgulhou. Dizia que os homens modernos que nascem e morrem numa clínica, deviam morar também numa clínica. Longe do rio.
Caniço importado, chumbada brilhante, barcão chique, com motor e tudo. Eles só não tinham peixe, o resto estava lá. Nosso pai dizia que esses pra quem dão tudo o que desejam, uma hora não sabem mais o que desejar. Pediam pra ele dar jeito. Ele dava. Sumia na canoa, só com o bambu e umas frutinhas. Voltava empeixado pros bonezinhos NY. Eles iam, nosso pai ficava. Sofri quando eles voltaram, noutras férias. Perguntaram do Terceira Margem, não respondi. Olhei o rio – o rio.

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