quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Escravo e senhor

Escravo e senhor da escrita é o que dá, quando a insistência atenta. Nem Goethe aguenta! A palavra que se dá, cumpre-se. Vai enfadada em junho, volta em agosto, tal promessa escrita e pena restrita à liberdade condicional. Então, se fica, já não se obriga a dar probabilidades ou outras periodicidades. Pode ser que entre em ebulição ou que naufrague, porque agora é molhada, é água... essa palavra descompromissada.


sábado, 30 de junho de 2012

Pausa tácita

- Sem dúvida, é um caso típico de transtorno obsessivo compulsivo. Ao dignóstico de meu veterinário, decidi dar uma pausa na postagem diária de Micro Crônicas Cretinas, para me dedicar, neste mês de julho, às touradas.
Confesso que ainda não sei bem qual será minha atuação nessa história espanhola: se o próprio touro ou o toureiro. Mas prometo escarafunchar minhas raízes, entupindo-me de tapas catalãs, ao norte, e andaluzes, ao sul, na busca insana da paella perdida.
Com a modéstia de um Picasso ou Salvador Dali, sei da solidão que causarei a você, estimado e querido leitor, mas prometo retomar meu T.O.C. em agosto próximo... Até lá, meus amigos, listados aqui ao lado, podem lhes proporcionar curiosas leituras. Boas férias para você também.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Naquele turbilhão

Naquele turbilhão de volúpia havia um quê de velhacaria. A gringa ufanava-se do Brasil. Sem deixar dúvidas sobre suas intenções, chegava a propor uma viagem a sós. Justo ela, toda volumosamente correta, em claro contraste ao traste do Guto, desproporcional até nas rechonchudas mãos. Naquela certeza um tanto tonta, ele multiplicava projetos e peripécias lascivas. Ela assentia. O descuido de Guto foi clicar no botão errado, Encheu de vírus o seu computador...

quarta-feira, 27 de junho de 2012

De barco

De barco a remo tiranizava a mansidão especular daquele lago de águas paradas. Tudo ali, no fundo do pequeno sítio em que morava, onde nem havia tanta vastidão. As bordoadas elevavam gotas nas pontas das pás. Cada uma delas produzia círculos que só paravam nas bordas, para descompor a simetria pelo rebojo. Délio dera um mundo, todo pronto e civilizado, por aquilo. As poucas rendas da aposentadoria e aluguéis mínimos lhe bastavam para o esforço gradual dos músculos. Às vezes ancorava e lia um livro, em estado de ilha. Outras vezes, apenas observava os múltiplos movimentos aquáticos, sem ver ou ouvir o tempo passar. Quem o olhasse pensaria que aquilo era óbvio demais...

terça-feira, 26 de junho de 2012

A mais indispensável

A mais indispensável seguramente não era, mas fazia certa falta. Dizer que a beleza lhe fora um dom inato seria também certo exagero. Na verdade, faltava. Digamos, inexistia. Nem tanto quanto a audição, notadamente no ouvido esquerdo. De certa maneira compensada pelo vesgo olho, que sempre se atrevia naquela direção, assim, sem saber.  Não fosse a histeria notória e até se justificaria sua constante exaltação, manifestada aos gritinhos, um tanto desafinados. Mas temos que reconhecer sua lucidez. Apenas nos momentos de fome, é verdade... na digestão, passava.