segunda-feira, 22 de junho de 2009

Juntava ferramentas

Juntava ferramentas na medida em que perdia o desejo de trabalhar. Um leve e doce exagero de que a morte o rondava lhe caía do coração, mas com a aflição de garoto internauta no horário em que assiste à missa, rezava para aquilo acabar logo. A única ligação de Arlindo com a beleza da vida era Belinha. Excitava-se até o vigésimo dedo do pé sempre que a via passar, encoleirada ao labrador Clodô.
Dissimulando uma proximidade casual, escondeu sob uma enorme folha de antúrio, aparentemente despojada no canto direito do portão de sua casa, uma sardinha fresca, capaz de atrair o cão. Belinha passou, Clodô parou, insistente. “O cachorro gosta de você”, ela lhe diria. “Adoro animais”, responderia, para início de conversa, e a convidaria para um suco de limão. Fariam-se conhecidos, amigos, por suposto, amantes, não fosse a dignidade do acaso. Ao abocanhar a sardinha, Clodô sofreu uma parada respiratória. Malditos espinhos, esses, que a vida movimenta.

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