quinta-feira, 18 de junho de 2009

Folhas verdes

Folhas verdes, tardias, brotaram na cabeceira da cama. A cerâmica do piso desfez-se em primitiva areia e cristais. Da luminária, no criado-mudo, refletiu um enorme Sol poente. Os quadros na parede escorreram à condição de tinta formando novas composições, aleatórias e abstratas. Por sorte o teto não se desfez. Àquela hora, Aurélio veria estrelas, mas estava frio, e necessitaria de um grosso edredom para cobrir as constelações. Mirou o pernilongo zumbideiro, com olhos de lince: íris enorme e os globos oculares vacilantes, pra lá e pra cá. Mataria o bicho, se pudesse. Colheria flores, se andasse. Respiraria aliviado, se lhe retirassem os aparelhos.
Todas aquelas prescrições e diálogos médicos. Aquela debilidade presa a tubos. E só alguma sorte, quando exageravam na morfina. Era possível tocar na redenção.

2 comentários:

  1. Afe! que judiação dr. Gregory!

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  2. Rapaizzz!

    Uma maravilhosa incursão por plagas surreais. Ficou com gosto de quero mais.

    Abraços.

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