Birrento contumaz, se fosse voz de morto, seria gemido de alma penada. Nas manhãs ensolaradas, de aspecto esplêndido, uivava aos arrastos de choro e gritos, daqueles que saem agudos da amídala, palatina e epiglote para ganhar o quarteirão, e os ouvidos de todos os vizinhos.
Era, Marcelo, uma criança de vontades. Outros que engolissem sua sonoridade pernóstica, seus escândalos presumidos ou desejos afetados. O vizinho imediato, cirurgião veterinário, bem que tentou não se importar, mas como dormir com aquelas estridências?
Contam que fez a extração das cordas vocais com anestesia local, numa tardinha em que o peste escapou da mãe e foi para a rua, berrar com as formigas. Todos estranharam a demora e o retorno, com aquelas marquinhas de corte e pontos cirúrgicos. Chamaram o síndico, o padre, a polícia e os parentes, mas Marcelo não disse uma palavra sobre o que lhe ocorrera.
Sua mímica de choro e esperneares, agora, era pura comédia de gestos aos olhos dos outros. Doce silêncio.
domingo, 14 de junho de 2009
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