quinta-feira, 25 de junho de 2009

Meias verdades

Meias verdades facilitavam-lhe a mentira. Vivia e vendia assim. No rentável comércio de automóveis semi-novos, olhava os fregueses fixamente à frente, sem vê-los. Como isso fosse a expressão usual do pão de cada dia, fazia churrascos às noites, todas elas. Amigas de ocasião, às terças-feiras. Futebol com comerciantes afins, na quarta. E se iniciava na quinta o final de semana. Os churrascos voltavam-se à família e aos amigos próximos. A lealdade, por conseguinte, era uma qualidade comprável.
Como na segunda-feira trabalhava até tarde, deixava a garagem às onze da noite quando o motoqueiro parou a sua frente. Queria negociar nos mesmos moldes, mas com métodos distintos. Também era ladrão, mas usava arma. Sem chance de voltar a quilometragem da vida ou tapar com massa os tropeços, bem que tentou empurrar-lhe a BMW preta, único dono. O deselegante bandido, no entanto, não conhecia a sinuosidade do negócio, e descarregou seis tiros. Ao policial que o algemava justificou-se, profissional: “não mexo com carro”.

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