sábado, 31 de outubro de 2009

Violenta repulsa

Violenta repulsa ou susto. Eram as sensações que Hernandes causava, feio como a sombra de um sapo sobre o abajur. Ninguém entendia a imensa paixão que Barbelina, de beleza simbólica e estampada, nutria por ele. Um casal bela e fera, Quasimodo e Esmeralda, que olhos alheios miravam como se vissem dois fugitivos fortuitos da Catedral de Notre Dame.
Corcunda ele não era, nem precisava, para configurar-lhe o tosco. Bastavam-lhe os traços abjetos. Ela, ereta. Forma e expressões precisas, até o dia do acidente.
Aquele desfecho sobre a linda estampa; os pontos mal dados nos cortes profundos; o insucesso da cirurgia na perna esquerda; as marcas do fogo que lhe cobriram o corpo todo, transformaram Barbelina. Virou outra e horrível. Nele, ninguém reparou os efeitos da tragédia, apesar de ter recebido tratamento idêntico. Ninguém se conforma é com a ingratidão. Ao vê-la medonha e capenga, Hernandes deixou de retornar os seus telefonemas, não trocou mais e-mails e sempre que tinham que sair arrumava uma desculpa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário