quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Erguer monumentos

Erguer monumentos era a idiotia social de Mirinho, prefeito do lugar. Superava o coro dos contrários com suas queixas, contra a “ignorância do povo”, e constantes irrupções de cóleras. Um elitista mimado, enfim, nos padrões que convém a todo o reacionário.
Dizia-se dado às artes e, também particularmente, às colunas romanas. Transformou o posto de saúde da cidade num pseudocoliseu. Exagerou, no entanto, na sua ânsia pela tradição. Ao invés de um cristo redentor, mandou fazer logo uma Santíssima Trindade, cuja estátua do deus-pai, dizia a oposição, pretendia ter os traços do próprio prefeito. Miro Júnior, seu mais velho rebento, virou o Cristo, o deus-filho. Mas o que motivou sua contra-ordem a demolirem todas as esculturas foi o Espírito-Santo. Com a feição de Girassílvia, a primeira-dama, logo apelidaram o pássaro divino de pomba-gira...

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