sábado, 17 de outubro de 2009

Diz que da

Diz que da ética só se salva a tica. Rubrica, a qual chamava o verbo ticar, sempre que anotava um ganho ilegal, no caderninho de receitas, percebidas por lobby. Apresentava o empreiteiro ao prefeito, e lá vinha “a tica”. Um construtor ao vereador e, tica. Um casamento pomposo ao pastor, e tica. A lista parecia não ter fim, e Honésimo nenhum limite.
Como sempre se pautara pelas negociatas legais, e fazia questão de frisar, jamais enfrentara problemas com a polícia. Jamais, até aquela tarde, na primavera. Inspirado nos colegas nobres, o delegado do lugar criou a Operação Tica-Tica no Fubá, e colocou um investigar disfarçado de receptor de furto da partitura original do chorinho, quase homônimo, de Ernesto Nazareth, para negociá-la com Honésimo, que o apresentaria ao deputado, apaixonado por chorinhos. Negócio agendado, blitz. O disfarçado se apresentou, Honésimo e o deputado caíram.
Diz que na cela só se salva ela: a velha tica. Honésimo consegue tudo no presídio, desde que “comissionado”. Montou uma holding de ticas que, diz, já atua em todo o Mercosul.

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