quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Gaguejou súplicas

Gaguejou súplicas na primeira cena. Corte seco no algoz: um traficantezinho magrelo, com camiseta Giorgio Armani e boné da Xuxa, invertido na testa. Ele come compulsivamente as batatinhas de um saco de Elma Chips e olha frio para a vítima, amarrada na roda dianteira de uma Kombi. – Essa merda tá na Bíblia, Rafinha. Tá lá, lembra da dona Lourdes? Não matarás! Diz aflito o prisioneiro, em plano americano, com a captação da imagem feita de cima para baixo, inferiorizando o personagem. “Só acredito em mim, vacilão!”, responde o líder dos carrascos, já dando ordens, com um sinal de cabeça, para que seus ajudantes reiniciem a tortura. Plano aberto. Sombras tenebrosas mostram o traficante de costas, em primeiro plano. Ao fundo dois bandidos adolescentes, um de gorro, outro de regata, ambos com fuzis entrelaçados às costas e pedaços de pau às mãos, desferem golpes contra o amarrado. No back-ground, uma paradoxal música suave enternece a morte. Corte seco. Close de uma batatinha chips que cai da mão de Rafinha. Ela tamborila no chão sujo, ele a pisa firme, balançando a ponta do pé, calçado com um tênis Nike.

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