sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Caso seja

Caso seja de seu agrado, farei o feijão tropeiro. Caso não, farei da mesma forma. Dizendo-se um animal de postura ereta, razão pela qual se ficasse muito tempo de cabeça baixa acabaria se cansando, Doralvina quis enquadrar o marido logo no primeiro domingo após o casamento. Bem cedinho, ainda comiam queijo fresco com café quando o pobre perguntou-lhe “o que aconteceu”, no momento em que ela havia mordido a língua. “Não existe pergunta mais infeliz”, ela devolveu-lhe encolerizada.
Angelino entendeu logo que os dois anos de namoro, destinados a uma escolha precisa, calibrada, pontual e, portanto, eficaz, não passaram de um teatro de gentis embusteirices. A coisa era cão, pensou baixo, com receio de expressar, na face, a funesta conclusão. Em tal nível, foi-se o primeiro ano. Dora já se inquietava com falta de gravidez. Angelino seguia a lei da gravidade, caia na cama todas as noites e simulava, raso, um imediato sono profundo. Nem safanões, lingeries vermelhos, velas aromáticas ou champanhe cidra-macieira eram capazes de motivá-lo às funções maritais. Ela, então, apresentou-lhe o ultimato: eu ou cama? Ele chamou o Gordo, amigo caminhoneiro, e contratou o frete: com colchão e tudo.

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