segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A mesma Lua

A mesma Lua se escancarou, cheia. Leonildo adicionou um punhado da erva-de-santa-maria no pano de prato, enrolou bem, e começou a socá-lo, torcendo-o lento para extrair o sumo verde. Aquilo era bom para tudo. Dava cor à palidez e saúde ao estômago, se tomado. Consertava ossos e nervos remontados, se emplastado. E seus tantos e esplêndidos bens até mal de amor curavam, se crédulos.
Mas a cara feia de Dadá, cheia dos furos de espinhas, estaria condenada a ser máscara, se a Lua não estivesse cheia. Outra não podia. Aquela, portanto, era a hora, a fase certa. O creme de santa-maria era ávido por milagres, e Leonildo o decifrava com sabedoria. Socava e escorria. Reservava. Aprendera tudo nas rezas, que ler não sabia. Na falta de pontuação das falas, pulou o descanso de algumas vírgulas, e esfregou logo a pasta verde no rosto da menina arteira. Crescentes modificações revelaram-se, nos minguantes buracos da cara de Dada, com nova fisionomia. Teria dado certinho, e nem teriam surgido aquelas inúmeras pintinhas verdes se, na última aplicação, a Lua estivesse cheia.

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