quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Fosse o que fosse

Fosse o que fosse, mais doce não lhe parecia possível. Aquele olhar de Dulcinéia, que lhe sintonizava, em meio a tantos, não seria de vã rastaqüera. Ascendeu recentemente, é fato, mas já largava amores e fortunas, quando não lhe convinha o vínculo. Morbidamente indiferente.
Para ele, não. Movia-se para comovê-lo, criando um fascínio de dúvidas, que motivou Alonso a aproximar-se. Queria tê-la às certas, matematicamente. Fosse seu, por a mais bê, o olhar que a todos pertencia. Moveria moinhos.
Atravessou a pista, entre esbarrões e chistes, para ver bem perto aqueles olhos. O funk catalão pulsava no resto. O riso súbito das amigas alertou-lhe a desconfiança. Um pouco tarde para Alonso, já frente a frente com a moça. Ouviu, súbito, o grito cômico da galera: “Alonso Mortadela. Alonso Mortadela”. Assustou-se, e saiu às pressas, para o reservado do boate. Pança, o amigo obeso, tratou de explicar-lhe o sentido do cinismo público: “você é metade porco, metade burro e existe em qualquer botequim”.

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