sábado, 3 de outubro de 2009

Chamou ligeiro

Chamou ligeiro a mulher para apresentar-lhe Jaciro, com orgulho. “Esse, benhê, é o melhor tocador de violão que eu conheço”. Prazer. Prazer. Telminha ficava sempre com uma pulga atrás orelha, quando o marido saía às terças-feiras para jogar truco, e voltava às altas horas, explicando que depois do jogo ficara lá, à toa com os amigos, cantando “umas modas”. Por isso quando viu o músico passando afobado, do outro lado da calçada, fez questão de convidá-lo a conhecer sua casa e sua família. Seria uma espécie de demonstração à esposa que os amigos eram “honrados”.
A pressa de Jaciro diminuiu quando o amigo lhe propôs que apreciassem um salaminho, trazido pela irmã de Telminha, que trabalhava numa fábrica de embutidos. Mais um pedacinho e uma necessidade: buscar outra meia dúzia de cervejas. Uma “gentileza” cuja incumbência caberia à Telminha. Com ar de enfado armado, ela foi. E foi-se o salame, mas cadê Telminha? Jaciro se despediu e a noite cresceu rápida. Passava das duas horas da amanhã, quando a mulher retornou, com uma alegria vesga e uma amiga gorda: “Essa, benhê, é a melhor cartomante que eu conheço”.

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