Meu apelido, os anos, que tudo esquecem, esqueceram-se. Tártaros nos dentes substituíram o feitiço daquele beijo metálico, nas arcadas tortas. Nem as arcádias corrigiram os dentes ou os apelidos: para deixarem-me com um nome mais poético. Homero, o Labiríntico, quem sabe. Cada tarefa era um grito, com o tal nome, que era o meu apelido. Durou o que dura as férias escolares: anos, décadas. O tempo também se enganava ao som inimigo, do apelido. Alguns, anos depois, lembraram-se que “não pegou”. Não pegou porque não foi em vocês, pensei com horror. Salvadores entreteram os sádicos. Aqueles que decifravam meu ódio ao apelido. Salvadores me chamavam pelo nome. Foi a sorte, por isso, salvadores. Nos quarteirões, pátios e fachadas habitavam os detratores do meu nome de batismo. Mãe não conta, porque me chamava pelo nome, quase completo. Eles esperavam eu passar, para solfejar, declamar, dividir silabicamente meu apelido. Es-pe-zi-nha-ção pura! Tortura em fragmentos. Pior que às vezes, como essa noite, acordo ao som do meu apelido. Pesadelo não tem paixão pela linguagem.
domingo, 25 de outubro de 2009
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