terça-feira, 5 de outubro de 2010

Seu olhar

Seu olhar passeou sobre as jabuticabas. À mesa havia um assado também. Não conseguiu comer suas dúvidas com os olhos. Queria saber como é carne de cachorro poodle. Por que é que o peixe de água salgada não é salgado ou o porco não tem gosto nojento de lama? Não que fosse, assim, uma meninota espirituosa. Era até grosseira. Uma voz de baixo soprano lhe saia pela mesma boca por onde entrava os ingredientes de um apetite de leoa. Um copo sem fundos quando cocacolava. Rosto ensebado e rebrilhante, como que carregando o receito de que fosse chover, girava curioso em paralelo aos olhos: rumo a rumo das misturas, transpassando arrozes e feijões eventuais. Foi ao precipitar-se sobre a coxa tostada que levou um tapa seco na mão carnuda. A mãe, com altiva cortesia pedagógica, desculpou-se com os donos da casa: “comam vocês, por favor. Ela vai conhecer a ração, que tenho em casa”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário