domingo, 17 de outubro de 2010

Para ler

Para ler tranquilo o jornal tendencioso, Arthur sentou-se no Café Ficção, torcendo-se em caretas. O mundo se aquece. Na Europa, o juiz condenou milicianos que mataram imigrantes. Coitada, pensou, quando leu que Iracema Diniz perdeu sua carteira de identidade. Achou bom que o ladrão Roberval Silva tivesse sido esfaqueado pela sexagenária Erundina Rosa, a quem tentava assaltar. A lenta agonia da adolescente atingida por bala perdida, no Rio, não lhe agradou. Considerou injusta a explosão do carro-bomba naquela sorveteria do Paquistão: 21 mortos. Enxotou o cão que se aproximou. Sofreu com a derrota do Corínthians por 3 a 0. O timinho era fraco. O café já estava frio. Nem chegou muito quente. Achou demais à empreiteira utilizar carro forte para transportar propinas. Exaltado em sua tranquilidade, Arthur melhorou com a conjunção entre mercúrio e marte. Seu signo, enfim, prometia um dia de harmonia.

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