quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Assentiu alegre

Assentiu alegre duas vezes com a cabeça. Aquiesceu, puxando os cantinhos da boca para baixo. Sim, falavam bem dele, isso era evidente. E não havia bêbado na platéia capaz de, chula e oportunamente, demonstrar que as verdades não estavam em nenhuma das palavras farfalhadas às farras das páginas daquele dicionário verborrágico ao palanque. Sorriu consentido, sem alegria, quando o locutor contratado, num ventre de quentura, disse que a oposição havia lhe imposto rudes infâmias, mas o homem, como um trem, estrondou cada acusação para fora dos trilhos, pesadamente, vagão por vagão. Então chegara a vez o homem discursar, cortês e maciamente. Agradecimentos. Diachos e orabolas. Pragas mudas rogadas em gestos. Pensativos olhos castanho-esverdeados abaixo da careca que lhe chegava à testa. Fragmentos mudos, cegos e surdos de soluções para todo o povo. “Política, meus conterrâneos, se faz com vergonha na cara!”, concluiu, para os óbvios aplausos ensaiados.

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