domingo, 24 de outubro de 2010

Novelo de vozes

Novelo de vozes, vida de lida. Cantavam em dupla, Deraldo e Orlando. Com o dinheiro do corte de cana deu pra comprar o iPod e cordas para a viola e violão, mais não dava. Cachaça? Ganhavam em troco do canto. Fossem a mesma pessoa e não seriam tão afinados. Mas o mal entrou pelos ouvidos, e a amizade deu pra feder, feito ovo choco. Quiçá abruptamente, Orlando arrancou os pequenos fones das orelhas de Deraldo. Sua vez de iPodar, disse sem leseira ou remorso. O outro achou estúrdio e vociferou com foco: - Dei vintão a mais pra comprar essa joça. Pra quê! Bofetadas tremendas cobriram-lhe cara e nuca. Arranharam-se às cegas, por desajustes de ideias. À medida que os gemidos de um tornavam-se ansiosos e harmônicos, os bofetes do outro marcavam o compasso. O barulho eriçado foi ganhando sonoridade. E deu-se que riram, arremedando com a boca o som da briga, enquanto pisoteavam em dueto, a quatro pés, aquele aparelhinho de gringo.

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