quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A frágil muda

A frágil muda de pau-brasil chegou ainda no jardim da infância. Viu o mundo novo, entre as paredes de um apartamento urbano, pelas mãozinhas delicadas da filha que a entregou ao pai num saquinho preto. Presente de escola. Era o Dia da Árvore, mas não lhe haveria solo fértil num décimo segundo andar. Com a filha empunhando a tênue folhinha verde, seguiram juntos à margem solitária de um pequeno córrego próximo à cidade e, lá, a plantaram com o carinho da perpetuação. Crescida e no velho mundo, a filha percorreu Europa, conquistou penínsulas, visitou espécies. Chegou quando tinha que ser. Acabara de completar 23 anos, dezoito dos quais a separavam da esquecida muda. Mas, movendo a barba esbranquiçada o pai lembrou-lhe do riozinho, das mãos sujas de terra e daquela que seria agora uma árvore de pau-brasil. Como ambos, a planta já buscava o sonho possível de chegar ao céu.

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