sábado, 30 de outubro de 2010

Da beirada ao nada

Da beirada ao nada era um passo. Do que me pareceu outrora, aquele abismo que se formava na encosta do trilho do trem tinha um quê de morte iminente. As alturas mudam com a idade. Os trens... passam. A sensação de magia encenada no passado vai se desvendando como uma comédia de equívocos. De modo muito mais engenhoso e diabólico do que seria um vulgar “sai daí que você vai morrer”, pensado moleque, surgem os frívolos sintomas de dores e efeitos físicos, com seus sorrisos perversos, que se põem a brincar em nossos lábios adultos. Nenhum músculo se move à frente ou para trás, no semblante apetitoso do fim. Nenhum perfume de flor do mal ou poema romântico, com suas lápides ou sepulturas. O que nos separa do precipício já não são passos ou medos de altura.

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