sábado, 23 de outubro de 2010

Por descer


Por descer não viu problema. Era até um alívio sair do tumulto para refugiar-se naquela pequena cidade, plantada no vale. Só lamentou deixar as perversões lá em cima. Tinha-as às dúzias: notadamente na forma de desvios de comportamento. Chegou tranqüilo lá embaixo, feito cidadão de bem. Pescou no riacho, colheu amoras, pediu pão com manteiga, no café da manhã. Incorporou-se aos hábitos e às paisagens. Já andava sem ser notado, quando as beatas deram alarde sobre o xixi da santa. O cheiro não deixava dúvidas. Depois foi São Sebastião, e até Jesus Cristo urinava, desde a umidade que desceu em poça, no pé da cruz. A polícia só foi convocada para ver as fezes de Santo Expedito. Armou campana na capela. Espreita. Deu com ele à meia noite e meia. Agachado, não conseguiu levantar-se à ordem de prisão. O cinto da calça prendera-se aos dentes do dragão que, coitado, já recebia uma lançada de São Jorge.

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