terça-feira, 19 de outubro de 2010

Espartana e sonsa

Espartana e sonsa, Adelaide lançava amiúde confidências falsas. Reunia um aqui, outro ali, sempre em exíguos espaços com propósito de proximidade e discrição. Então dizia seus feitos e passagens, que sempre engendravam possibilidades de auxílios fáceis, diretos dos interlocutores ao seu bolso. Matou mães, padeceu de incuráveis males, atropelou-se às dezenas de vezes, foi roubada, furtada ou trapaceada às abundâncias. O mal são os outros, sartreava solerte. Aquele moço tímido, hospedado na pensão da vila, receberia certamente uma visita triste de Adelaide. E não tardou para que docemente ela o fizesse. Contou-lhe o trauma sofrido da rejeitada com cinco filhos pequenos. Jovial, o rapaz dispôs-se a auxiliá-la. Que lhe desse a chave de sua casa, para uma surpresa que pretendia revolucionária. Aguardasse Adelaide, e veria. Viu. Além do bilhete “otária”, e do sumiço da televisão da sala, ainda na terceira, das doze prestações acertadas, havia uma lambança sobre os móveis. Sem dúvidas, intestinais.

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