sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Braço estranho

Braço estranho aquele que pousou ao ombro de Clara. Estava escuro, na penumbra ensurdecedora da boate, mas havia algo de confortante. Macio, até, como os felpos do sofá escarlate, às vezes preto, outras vezes sombras, na luz intermitente do batuque eletrônico. Que a mão não chegasse aos seus seios ou colo, pensou ela, com pudor extemporâneo, tamanha a sua inexistência. O pescoço passou a receber ternura irradiada em seguida. Seguidas vezes. Fonte de calor interno (ou externo?), não sabia, virou aquilo. Carícia sobre o colar barato. Brincadeira de gravata, nos pontos das contas. Que pareciam crescer com o aperto. Haverão de marcá-la, pensou tarde, quando não havia brecha nem chispa de fuga para aquele esganar mutante. Tesão ou sufoco? Esgoelava muda, sem som que se sobrepusesse ao ritmo frenético, sem testemunhas ou ar disponíveis. Só pela manhã viram seu corpo, o sofá e o colar quebrado. Parecia sorrir, apaziguada com um final de noite.

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