quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Ponderou lívido

Ponderou lívido. Arrancar-lhe a máscara seria um gesto ousado, até para com ladrões, que se a utilizam é porque não fazem questão de revelar sua identidade. Melhor o diálogo, como a polícia sempre orientou. “Tá frio, né?”. Disse sem assunto. Numas horas dessas, nenhuma inspiração figura na ópera: trágica, nada cômica, diga-se. “O senhor tem mãe?”. Pra quê? Intimidade não se questiona. Coronhada e grito. “Burro que eu sou”, constata exasperado. Ridiculamente silencioso depois da pergunta grotesca. “Você acredita na vida depois da morte?”. Quer ir lá ver?, voltou-lhe o ladrão nervoso. Não havia solicitude a demonstrar, gentileza a expor, nada a fazer. O tempo contemplava apenas a visão da arma. De súbito, um adeus marcado pelo riso sarcástico do algoz. E uma história de medo e fraqueza, para contar aos amigos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário