terça-feira, 12 de outubro de 2010

Outro trâmite

Outro trâmite de bom tamanho seria. Espiar a claridade apenas por aquela fresta cansa néscios e sãos. Chega à violação deixar presa na ausência a criança indefesa. Ela fica pela falta de força, incapaz que é de romper mesmo as tênues tábuas da casa pobre. A mãe, doméstica na vila, luta contra si própria antes de atar ao trinco o cadeado torpe. O pai não vive ali: apenas recolhe ossos nas proximidades do lugar, para vendê-los aos estudantes de medicina, lá na ala rica da urbe. Sobreviver é uma pena. Todos a cumprem, mas só a criança em regime semi-aberto. Depois que deu no jornal o transtornou virou tormento. Acocorada no distrito policial, a mãe lavou as mãos. O pai não se sabe. A menina, 6, geme a sede de ternura nos lençóis da assistência. Tem saudade da mãe, que lhe dava breves surras e farinha umedecida na água quente, às vezes, até com açúcar cristal. Gosta do número que lhe penduraram no colar de barbante, brinca com ele, mas lá fundo sente falta do camundongo... parceiro de solidão.

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