terça-feira, 26 de outubro de 2010

Menina perturbada

Menina perturbada era de nascença. Foi envolta num xale preto, luto da avó, quando veio ao mundo, prematura. Brincou com besouros no berço, tomou leite de porca, comeu tijolos raspados, pôs os dedos nas tomadas, brincou com o fogo da velas, atiçou cachorros nas gentes, balançou em galhos altos, xingou freiras, foi banida da escola, cutucou narizes, bolinou amiguinhas e amiguinhos, lançou fogo na cozinha, mexeu com idosos, maltratou bichos, furtou coisinhas da loja, cheirou cola de sapateiro, arrancou cascas de feridas, fomentou discórdias, namorou maus elementos, engravidou quase criança, abortou sozinha, fez ponto da rodoviária, sumiu com caminhoneiros. A última notícia que chegou dava conta de sua presença em Katmandu. Passava um frio danado, mas vivia em paz com hinduísta. Seu mal, então, era de todos o menor: não decorava os mantras... e, às vezes, levantava a túnica.

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