segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Vida cantora

Vida cantora. A introdução no dia de hoje é em si, a última nota da escala musical. Vou confidenciar o motivo: é que hoje é o dia do meu suicídio. Quer vir me cumprimentar, aproveite. Parto ali pelas oito da noite, mas até lá levarei um dia normal. Vida cantora, legítima, com seus sambas, serestas, tangos e chorinhos. Você tem dó? Então vamos lá. Dê um dó pra começar a escala. “Quando eu nasci veio um anjo safado, um chato de um querubim, que decretou que eu estava predestinado a ser errado assim”. Viu? Sou capaz de cantar no dia agendado para a minha morte. Quer passar a ré? “Cheio dos risos falsos, da alegria, eu andei cantando a minha fantasia, entre as palmas febris e os corações”. Sim, cometi pecados aos acasos, tendo a felicidade como justificativa. Agora falta pouco e vai ser rápido. Amanhã você comenta com todos: o cara cantou, cantou e morreu. Pode até dizer que eu era meio doente, afinal estarei morto e tudo se encaixará. Boa música não extrapola na intensidade ou timbre, no ritmo, melodia ou harmonia. Vida cantora, não desafina. Termina, quando o som da vez é o do silêncio.

Um comentário:

  1. Ele vai virar uma estrelinha no céu?
    Tangendo a tensão e lindo "no alvo".

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