quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Profética

Profética, a morfética! É abrir a boca e lá vem problema. Quando diz que vai chover, pode esperar um temporal. Se reclamar do trânsito, pare, porque a iminência de uma batida é segura. Mas o pior dos vaticínios ela cometeu ainda sob a névoa da manhã, daquele inverno de julho. Quando os primeiros raios solares se preparavam para refletir na vidraça do edifício Nero, ela sentenciou incauta: “nossa, parece que o prédio está pegando fogo!”.
Oito horas depois, durante o resgate do centésimo primeiro corpo daquele incêndio terrível, um bombeiro menos graduado jurou ter ouvido de uma das vítimas, já moribunda, juras de verdades obscuras: “foi uma mulher, foi uma mulher. Ela parecia soltar fogo pelos olhos”. Mas relato perdeu-se na história da tragédia. Ninguém liga para alucinações, palavras mortas ou profecias.

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