segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A labareda

A labareda de Lorena externava-se nos olhos. Felino, tigroso. Parecia que acordava de um sonho malcriado. Estaria escutando ainda? E vendo? O quê? Não se mexia, a louca. Ardia em chamas como se mergulhasse numa piscina de água límpida. Portava prazer no sorriso, aspiração no gesto, cócegas no cérebro.
Afogava seus possíveis anseios de perfeição naquela decisão obscura. Cabeça desgarrada do peito, braços em linha, feito o ardor de uma vela sem vento. Celebridade do tempo, com previsão de cinzas e traumas alheios. Mumificação viva do esqueleto agudo. Fim de um calculado ritual de traumas.
Contam que Lorena decidiu se queimar em praça pública pela falta de Laurindo. Uma ternura imensa lograda ao desprezo. Contam também que chorou, tarde demais, naquela noite.

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