segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Outrora o trem

Outrora o trem atravessava essas pastagens. Vinha de lá e passava bem aqui. Era por essa janela que o dia entrava, branco e exortado, depois de uma escuridão de luas pelas frestas. Lembro do beiço do Brioso, um pangaré sabido que também se achegava por aqui, e metia o focinhão no batente. Queria balas de caramelo. De dó eu dava. Você nem tinha nascido.
Estirado aí, entregando a vida, você agora, de novo, não vê nada disso. Que coisa é você, sobrinho, tão cadaverzinho! Nem viu o antigamente, nem saberá do que vem. Falei pra não rodear o pé de ora-pro-nobis, o espinho poderia infeccionar. E infeccionou bem em você. Parecia um aviso. Sempre mirrado, sempre errado. Você parecia mesmo que não iria vingar. Seu jeito de sem vontade, talvez. Ali na frente, onde você caiu, vou mandar arrancar aquela moita da planta. Fazer um jardim de rosas. Rosa tem espinho menor, e eu nunca ouvi falar de alguém que tenha morrido espetado por roseira. Dói, também. Dói muito. Mas acho que a gente se acostuma com a dor. Não sei. Você aí também nunca vai saber. Mas que dói, dói.



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