quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Pé de jacarandá

Pé de jacarandá não dava conta da serra elétrica de Chapinha. Para a verdade, planta nenhuma dava. Seu frisson destruidor consumiria florestas, embora morasse num condomínio fechado, rodeado de ipês amarelos. Começou nas honradas roseiras de Hortência, vizinha virgem, lá, de seus trinta anos e uma dúzia de plantas. Não sobrou pétala sobre pétala. Denúncia e reuniões de condôminos não silenciaram o motor de Chapinha. Tinha um quê de inocência, mesmo quando ensurdecia o mundo com o barulho de sua estupidez. O toque biográfico de seu pai, muito atencioso com os fregueses do açougue, o impulsionavam a pedir licença, antes de passar a serra. Foi o que fez com os antúrios de Claudomiro: coleção premiada na primeira Feianta – Feira de Antúrios de Altamira. Avisou que começaria pelos vermelhos, e os executou. Passaria aos amarelos, e záz. Não perdoaria os brancos, e vruuuum. Excitado, ainda beijava sensual o motor da máquina, quando a vizinhança ouviu o estampido. Claudomiro acabava se suicidar, com um tiro certeiro no tórax. Chapinha capengou até a portaria, mas foi preso, com a serra em punho, pingando gotas verdes. Crime culposo, sentenciou às cegas o escrivão palpiteiro.

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