segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Duplicou a aposta

Duplicou a aposta. Tinha a seriedade de uma criança pidona, que quer ouvir a mesma história pela trigésima vez. Olhou as cartas de esguelha, acendeu um cigarro, baforou. A timidez do adversário lhe parecia falsa, então também tramou um temor negaceado. Triplicou a aposta, insolente feito o gato que, do alto do muro, observa o cachorro latindo e pulando para tentar alcançá-lo. Coçou o queixo, baixou os olhos, disse que não queria outra carta. Ensaiou o pedido de outra dose de uísque, voltou atrás. Um copo com água, pediu seco. Abriu o jogo. Full house: uma trinca de dez e um par de damas. O adversário sorveu os lábios, irônico. Abriu o quatro de paus, o cinco de paus, o seis de paus, o sete de paus, o oito de paus: straight flush. Esticava a mão às fichas quando recebeu sobre o mindinho o peso de um soco firme, de mão fechada. Enfureceu-se, e já partia para briga, quando o agressor sorriu, com a displicência de uma vingança: “sortudo!”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário