O silêncio vincava na vila dormida. De repente, o ar vociferou um uivo de bicho grande. Lobo, lince, onça ou... “Lobisomem”, gritou um, do quarto de fundos da casa dos Silveira. Pra quê! “Vam’lá pegá o bicho”, veio no vento uma convocação nervosa, sabe-se lá, então, se dos Silva ou dos Nogueira? Uma veneziana acordava com uma cabeça perturbada. Outra janela espreguiçava desentendida, com duas mãos coçando os olhos. Ploc-plocs de passos inquietos das gentes valentes começaram a descompassar silvos e roncos. A vila virou um luzeiro, num pega pra capar desajustado. “Foi por ali?”, “cerca a esquina”, “vou por aqui, mais o Tonho”. No escuro de cada um, uma vontade louca de não topar com o bicho. Da boca pra fora uma aparente coragem que vinha de dentro. “Tenho família, né Carlão? Diz-que esses monstros matam assim, ó!”, disse Lézo. Carlos Gotardo não disse nada. “Tá no telhado!”, apontou Luquinha. “No telhado é chaminé, seu leso”, alguém respondeu.
Tico-Louco ficava se rindo, com os olhos até vermelhos, da arte prazerosa. Amanhã à noite, na mesma horinha das duas e meia, arremedaria um estouro de boiada, um incêndio, essas coisas de medo. Depois pensaria nisso.
Tico-Louco ficava se rindo, com os olhos até vermelhos, da arte prazerosa. Amanhã à noite, na mesma horinha das duas e meia, arremedaria um estouro de boiada, um incêndio, essas coisas de medo. Depois pensaria nisso.
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