quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Ouviu, do nada

Ouviu, do nada, a voz da amada. Entre todas as palavras que escutou, de uma ele se lembrava: “porta”. Mas não sabia ler repentes, improvisar gestos ou arquitetar mistérios. Não havia sequer amada em casa. Mas havia, sim, uma porta, para onde seguiu indeciso. Enfeitiçado por uma obviedade obscura. Todavia, não havia a amada na porta.
No trecho perplexo, para o lado o oposto ao da porta, chegou à cozinha, vencido. Fugia-lhe a humilde compreensão do nada. No ócio do caminho solitário declinou pensamentos mórbidos, enigma de sinais ou presságios inexatos. Tomou um labiríntico copo d’água gelada, sem ignorar detalhes, quem sabe, reveladores. Irrelevante atitude. Os mágicos rigores cotidianos demonstravam-se incapazes de desvendar delírios.
Linda, a amada chegou horas de depois, e sorria. Ouviu da amada a sua voz. E louvou-a, numa alegria infinita.

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