Brincando de ser Adão, porque era o primeiro homem da família Paraíso e Silva, Zuenir convocou Edilvânia para ser Eva. A febre da fábula fez com que pedisse à menina que tirasse a roupa, para que juntos nadassem nus no riacho ao fundo da fazenda. Levaram doces e suco de limão para o piquenique. No jardim de maravilhas, depois de muito se cansarem, entre correrias e brincadeiras na água, vestiram as roupinhas e voltaram para casa: apaixonados e maravilhados.Foram os anos de Éden, harmônicos e ingênuos, até a pré-adolescência, quando decidiram incluir a maçã no cardápio. O sabor adocicado do prazer ampliou-lhes a dimensão do espaço, mas criava-lhes uma certa ansiedade e, pior, despertava-lhes o ciúme, até então inimaginável naquele Jardim das Delícias. Tinham quase dezessete anos, quando Edilvânia convidou o primo Abel para brincar também. Foi com o canivete, o mesmo instrumento utilizado há anos, para cortar os doces e a maçã, que Zuenir cravou o peito nu de Abel. A água do riacho serpenteou réptil entre as pedras.
terça-feira, 10 de novembro de 2009
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Amigo Alaor,
ResponderExcluirBeleza na repetição da tragédia contida no mito da criação.Interessante como você, mesmo ruralizando o cenário é impecavelmente urbano.E isto não está nos acontecimentos, que são universais, nem nos personagens, necessariamente. Está na atmosfera. Entendeu? E isso é uma característica do seu estilo. É assim que eu vejo.
Obrigado pela bela construção.
Abraço.