quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Dançar flamenco

Dançar flamenco era o forte de Carmen. Claro, com um nome desses. O detalhe é que ela era japonesa. A mãe veio grávida, de Kanagawa para o Brasil, e foi no cartório de São José do Rio Preto que o pai, mal e porcamente, soletrou o nome da criança recém-nascida: Khar Mi Yamagushi. Saiu feliz com a certidão de nascimento de sua guria e um papel que também não entendia, mas onde se podia ler: Carmen Irmã Dulce.
Foi no colégio do bairro que a menina conheceu a imigrante espanhola Dona Guilhermina, teimosa professora, que insistia em manter as “raízes hibéricas” dos alunos. A japonesinha logo começou a ensinar seus pais a falarem a suposta língua nativa do Brasil: “holla”, “muy bien”, “a mi me gusta” e outras expressões corriqueiras. Mas gostava mesmo era de dançar, e não tardou em aprender sapateado ao som das castanholas. Destaque na pequena escola rural. Destaque na média escola municipal. Destaque na grande escola estadual, Carmen foi convidada a dançar para o presidente do país. Num gesto magnânimo, o poderoso político foi cumprimentar os pais da bailarina, após o espetáculo. O Senhor Yamagushi, depois de três genuflexões e de sorrir sem parar, respondeu-lhe aos cumprimentos, sem pensar muito: “muchas gracias!”.

2 comentários: