segunda-feira, 31 de maio de 2010

Como negar

Como negar tamanha estima camaleônica? A vida compõe-se de sugestões, então se a moda é o mortífero sucesso do pretinho básico, pretinho básico. Se saia, saia. Jamais uma indefesa neurótica anônima, que é o que Clara é. A varredura ocular nas outras mulheres aponta bem o parâmetro do riscado. Sem falar nas revistas fashions, decisivos bons-tons para uma existência desafinada.
Não sabia que Odécio era um policial à paisana. Soubesse, nada ocorreria. Empresário é o in, nos seus eitos de vidros fumês. Lá dá pra se enterrar num homem que caça bandidos e maltrapilhos? Mas quando viu, já era um amoreco. O cio narcísico nem teve tempo de deliberar sobre as últimas tendências da paixão. Clara tinha Odécio na traquéia. Entre engoli-lo ou regurgitá-lo, desreprimiu-se. Amou eternamente aquele cafona, com toda a obsolescência que a palavra “cafona” pode exprimir àquele contexto fora de moda.

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