quarta-feira, 12 de maio de 2010

A monumental honestidade

A monumental honestidade era praticada apenas quando o assunto se distanciava de mulher. Nas situações que as envolviam, Dorneles era um babão contumaz, capaz das mais indignas torpezas ou desonestidades. Verdade é que não era qualquer mulher. Havia de ser loura e, preferencialmente, sem ares para a esperteza. Dorneles derretia-se, desprezível à vida. Enxergava inúmeras Marilyns de Warhol, naqueles corpinhos de Vênus de Milo com braços (dois, diga-se). Então utilizava sua posição de chefe no gigantesco escritório, e as contratava como auxiliares. Mostrava-lhes as vitrines que nunca tinham visto, os doces que jamais comeram, roupas que poderiam lhes cair bem, sempre bancando um jogo imprudente, um tantinho assim da corrupção. Até que surgiu Camila, fazendo-se de rogada. Dorneles, fissurado, deu-lhe o emprego e os mimos, mas a moça mansa e sonsa era do tipo quietinha que queria mais. Dorneles foi pra miséria, e matou-se logo em seguida, com uma overdose de uísque barato. Quem foi ao velório, jamais se esqueceu, no entanto, daquele sorriso monalisíco do defunto fresco.

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