sábado, 8 de maio de 2010

No aguaceiro

No aguaceiro, o rapaz do violão refez alguns jogos cênicos que lhe favoreciam perfeitos para a platéia, como cantar “chove chuva, chove sem parar”. Então mortos e assombrações, que daquela canção tiravam reminiscências, puseram-se a cantar até de manhã, lindos, para um show de bebericada paciência. Só Edison maldisse o contexto. Lamentando o guarda-chuvas ausente, observou a profundamente provinciana cena dos piores momentos de uma geração. Mantém-se contrito, porém, pela ausência da coragem de encarar uma surpresa molhada que fosse, capaz de livrá-lo do refrão “por favor chuva ruim, não molhe mais o meu amor assim”. A obscura decisão custou-lhe a expressão sadia de um olhar nem um pouco fotogênico. Aquela cara de tacho, sombria modéstia ou pior parcimônia deu-lhe nos bagos. Levantou a mão, como se orquestrasse os pingos e notas musicais, para bradar abominável: “puta caretice!”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário