segunda-feira, 17 de maio de 2010

A barulheira

A barulheira atraiu gente de todo o quarteirão. No fundo, Helena só queria dissipar dissabores, distrair-se dos recentes pavores e colocar Marcolino no seu devido lugar. Traidor de uma figa.
Mas os ódios magníficos da mulher foram despropositados. O canalha saíra cedo para levar Marcolininho no parque, a fim de “aproveitar o domingo”. Lá, como disse a música, Juliana foi que ele viu. Aquela, com a qual passou o dia, que começou no bar do parque e terminou na casa dela, às oito da noite, horas depois de Marcolininho ter retornado sozinho pra casa e dito à mãe que o pai sumira com “uma (outra) mulher”. Helena esperou no portão, e quando o marido disse “forfavor”, ao invés de por favor, para obter a licença a fim de entrar em casa, o que viu foi a (sua) mulher travestida de Medéia secular. Seus olhos estavam rubros, suas roupas manchadas de vermelho e no facão escorria qualquer coisa gosmenta. Antes de urrar, Marcolino quis, no fundo da alma, ser daltônico.

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