terça-feira, 4 de maio de 2010

Arrebatado pelo olhar

Arrebatado pelo olhar de Lavínia, Olavo quis render-lhe graças empurrando o banquinho de madeira em sua direção. Que se sentasse naquela solenidade enfadonha, onde todos se encontravam em pé. A moça sorriu, com um lânguido suspiro perturbado, mas aceitou de bom grado. Presunçoso, Olavo quis avançar na ocupação daqueles olhos, sediar a atenção de Lavínia com mesuras demasiadamente afetadas para, enfim, iluminar-se único com aqueles brilhos um tanto azuis esverdeados. Desconhecia a pecha de cobra que paira sobre as mulheres de olhos daquelas cores. Enlevado, já, com o simulado acanhamento da moça, tratou de pedir-lhe o parco espaço ao seu lado. Foi se encaixando nas partes que lhe tocavam, ajeitando tronco e membros, tateando hora e vez de abrir a matraca para convencer Lavínia a sair, ficar, estar, casar ou com ele namorar. Tolo, Olavo. Do baixo do banquinho, Lavínia olhou-lhe dos pés à testa, como se o demarcasse o corpo com um feixe de raio laser agressivo e cortante. Olhou para o nariz de Olavo, não para os olhos, e falou mansa: “vá curar essa coriza, rapaz!”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário