sexta-feira, 14 de maio de 2010

Impôs um estrito

Impôs um estrito silêncio e olhou cada um dos presentes nos olhos. Então soltou uma longa, demorada, duradoura, extensa, dilatada, alargada, propagada, difundida, comprida, retardada, incontida, sonora e brutal flatulência. Trocou uma espalmada de mão seguida de um soquinho de punhos fechados com o criado, ao som de um “yeh” e, para completar a estupefação da reduzida platéia, pediu que trouxessem um vinho cujo preço daria para alimentar durante quinze dias uma família de onze pessoas do Vale do Jequitinhonha, incluindo seus seis vira-latas, dois papagaios e quatro passarinhos de estimação. Pediu mais duas idênticas garrafas, imediatamente abertas, para que todas as taças fossem servidas. Nenhum presente decidiu por completo se o que sentia era asco, ódio ou deferência. Na dúvida e com ordem expressa, todos brindaram, com fascínio fariseu. O homem deu-lhes as costas e saiu lentamente pelo portal do recinto. Nenhum tchau ele deu.

Um comentário:

  1. Grande Alaor! Parabéns pelo trabalho na secretaria de Cultura. Ótima idéia levar o cinema para a praça (que é de todos). Beijo.

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