domingo, 2 de maio de 2010

Esfarrapada e óbvia

Esfarrapada e óbvia a desculpa da xícara de açúcar. O mais acintoso do assédio, porém, foi mostrar ao vizinho a dupla de anjos que protegia suas nádegas, sabe Deus de quê, naquela tatuagem estampada na altura do cóccix. “O que você acha que eu acho?”, ainda tentou desviar o rapaz, respondendo-lhe à pergunta inoportuna.
Ela já estava no zênite do mau humor quando ele, enfim, decidiu ceder. Concordou visitar o apartamento da vizinha, para experimentar o bolo. Mas afinal, tudo não passava de uma fabulação do açúcar. Não havia farinha, nem ovos, nem receita alguma. Tocou a campainha como quem se dá ao carrasco. A cena não era lá das piores. Havia um vaso de rosas brancas sobre a mesinha redonda. No sofá, hordas de ursinhos de pelúcia. O sala e quarto não cabia em si de felicidade. Com olhos jaboticabais, ela lhe sinalizou para entrar. Dois beijinhos. E um amor tão eterno, que só terminou quando a última sirene apitou, ultimando a implosão iminente daquele edifício velho, o que de fato ocorreu, nos segundos seguintes.

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