terça-feira, 11 de maio de 2010

O cara queria

O cara queria ficar odara, feito o irmão evangélico que, desde a crença, foi-se despossuindo de seus pequenos demônios. Sua praia, porém, se diferia em tudo daquela onde o irmão bronzeava-se em liturgias. Lia as flores do mal ou Rimbaud ao invés da bíblia; fazia cara de compenetrado mas pensava mesmo era numa beca dândi, ao invés do terninho crédulo e ridículo “from Pernambucanas house” (como dizia ao irmão); e assobiava Satisfation, com arranjo mental para harpa e gaita, a ter que decorar compridos hinos celestiais ou musiquinhas brego-góspeis. Feito lebre que voa, saltava de empregos em empregos, amores em amores, sem deixar marcas de pegadas de um mínimo profissionalismo que fosse. Deu-se, porém, que o irmão crente exigiu-lhe o dízimo habitacional: sua parcela de contribuição nas contas de água, luz e comida da casa dos pais, onde moravam. Foi a conta. Num misto de revolta e indignação, acrescidas de nenhuma vergonha, respondeu seco ao abusado: que pague a conta quem leva a felicidade. Foi expulso, é verdade, mas passou a viver feliz, odara, sem as mesquinhas comparações da descrença.

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