domingo, 30 de maio de 2010

Dentro da casa

Dentro da casa há livros e uma mesa de bilhar. Nessa época do ano ninguém consegue ficar no quintal, só que casa fechada e meninos também não se enrabicham. Esses costumam grudar na cozinha, feito moscas sonsas, para lamber os fundos das latas de leite condensado, horas antes de surgirem os disputados pudins. Não é castigo, nem sossego, é o tempo, frio e úmido, em contraste com a sina aquecida da vida aos saltos e brincadeiras. Um marido com emprego garantido, uma mulher açucarada. Redundantes balas geladas de coco na compoteira azul. Na fugacidade pródiga da cena literária, as palavras no ar da vida do menino sozinho entre as mangueiras, que lia histórias de Robinson Crusué, compridas, que não acabavam nunca. Mas, na leitura do avô, chegavam ao fim justamente nesse ponto, no qual não acabam. O mal, então, se desenhou apenas no pano verde. Foi a inabilidade renitente de nunca encaçapar a bola 8.

Ilustração: Manuel Almeida / MPArteDesign/Econtrada na net

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