quinta-feira, 13 de maio de 2010

Vivesse congelado

Vivesse congelado dentro de um cubo de gelo de uísque e Umberto não se sentiria um excluído. Mas a vida não é feita apenas daquilo que a gente quer, já teria dito sua bisavó, a primeira a tentar imprimir nos confins dos miolos marinados em vodka daquele desmiolado, que ele conseguiria, sim, ser alguém na vida. Errada no propósito, a velha acertou em cheio no pronome indefinido. Alguém, Umberto, afinal era. Um cara com um cérebro surtado, capaz de imaginar que todos o consideravam indesejável. E se a inveja é uma merda o sentimento de perseguição é duas merdas. Não havia situação na qual Umberto não achasse que outro alguém o estava boicotando, recusando-o sistematicamente, deixando-o de lado. Os dois beijinhos que a desconhecida Kátia deu em seu rosto, para cumprimentá-lo à toa, tocou-lhe a aflição. Considerou-a uma judas, de quem por trás logo viriam os soldados para executá-lo na cruz. Ante seu susto explícito, a moça também se sobressaltou: “cara, você não é do tipo que gosta de ser gostado!”. Umberto acuou-se. E virou de uma só vez o copo de gim que tinha nas mãos...

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