sábado, 29 de maio de 2010

Depositou beijos

Depositou beijos perfumados no antebraço escasso da anã Rose. Não a odiava, embora a namorasse por exclusão. O mundo do circo deixou Melo fogoso e criativo. Lana, a trapezista para quem olhava longa e pornograficamente, só tinha olhos para o vetor do domador Ulisses. Depois havia Morga, a mulher-gorila, cujos caprichos não estavam disponíveis para mágicos, voltava toda a sua símia volúpia às macacas tietes, que sonhavam com o contorcionista Igor, gay de nascença e credo. Dona Glória Vênus, nem pensar! “Aí, Melinho linda, vem jantarrrr comigo na horrrrrra da meu marida na espetáculo...”. Melo ia? Nem tchuns. A afrancesada era mulher do dono, Apolo Stracovick. Homem, lá, de seu metro e noventa, ex-mercenário nas Malvinas, que deixou a guerra para batalhar com o circo, comprado com o soldo das mortes. Altura e força, portanto, que faltavam à anã Rose, que lhe sobravam na luxúria e lascívia. A ter que dependurar a vara mágica, Melo a utilizava assim, em prestidigitações mínimas que, quando embriagado, costumava bradar aos gozadores convencionais: “são originalíssimas!”.

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